Devocionais e Reflexões

Quando Cristo Deixa de Ser o Centro

📖 “Para que em tudo Ele tenha a primazia.” — Colossenses 1:18

Vivemos tempos em que muitas vozes ecoam dentro e fora da igreja, todas tentando ocupar o centro do nosso coração e da nossa fé. Em meio a tantos ruídos, é preciso lembrar uma verdade fundamental: quando Cristo deixa de ser o centro, aquilo que deveria ser periférico passa a ocupar o lugar principal.

A frase que inspirou esta reflexão diz: “Quando Cristo desvanesce no centro, ressaltam-se as margens.” Embora não me recorde do autor, essa sentença carrega um peso profundo. Quando tiramos os olhos de Cristo, abrimos espaço para que assuntos secundários se tornem primordiais — e isso é um perigo real.


I. O Sutil Deslocamento de Cristo

Muitas vezes, Cristo não é removido do centro da nossa vida por uma negação direta, mas por substituições sutis. Ele ainda é mencionado, está presente em nossos cânticos e confissões, mas o coração da fé — a glória do evangelho, a cruz, a ressurreição, a pessoa de Jesus — vai se apagando silenciosamente. No lugar, surgem outros centros: ideologias, agendas pessoais, tradições, visões estéticas, teologias periféricas, espiritualidade baseada em performance, ativismo religioso.

Não é difícil perceber isso em nosso cotidiano cristão. Vemos debates intensos sobre tradições, costumes, estilos de louvor, formas de vestir, preferências teológicas que não dizem respeito a doutrinas essenciais da fé, questões culturais e até estéticas. Nenhuma dessas coisas, em si, é necessariamente ruim. Mas quando ganham o centro do nosso discurso e da nossa vivência cristã, estamos em risco.


II. O Diagnóstico da Pergunta Errada

Quantas vezes nos pegamos perguntando: “Mas isso é pecado?” Essa pergunta, por si só, revela uma disposição perigosa do nosso coração: queremos viver o mais longe possível da centralidade de Cristo, e o mais perto possível da margem entre o certo e o errado. Não queremos saber o que glorifica a Cristo, mas o que ainda é permitido fazer sem sermos considerados “pecadores”. É o evangelho da margem.

A verdadeira pergunta que revela maturidade espiritual é: “Isso me aproxima de Cristo? Isso exalta o nome de Jesus? Isso reflete o seu caráter e o seu evangelho?” Uma fé centrada em Cristo não busca apenas limites éticos, mas uma vida inteira moldada pela pessoa de Jesus.


III. O Engano do Ativismo Religioso

É possível estar envolvido em ministérios, ativismos eclesiásticos, ou até em teologia profunda e, ainda assim, perder Cristo de vista. Foi o que aconteceu com os fariseus — homens profundamente religiosos, conhecedores da Lei, mas que não reconheceram o Messias quando Ele estava diante deles.

Eles haviam construído um sistema tão cheio de tradições e detalhes, que a própria essência da Lei — amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo — foi esquecida. O centro havia se perdido. O templo, a Lei, a descendência de Abraão — tudo isso se tornou o novo centro. Mas Cristo, o cumprimento de tudo, foi rejeitado.


IV. Quando Cristo É o Centro

Cristo precisa ser o centro do nosso pensar, do nosso viver, do nosso adorar. Quando Ele é o centro, tudo o mais se alinha. As doutrinas se tornam vivas, as práticas ganham sentido, os debates são regidos por amor e humildade, as tradições são avaliadas à luz do evangelho, e até nossas escolhas mais simples passam a refletir a glória de Deus.

Cristo não deve ser apenas mencionado — Ele deve ser o centro pulsante da nossa fé. Paulo nos lembra em Colossenses 1:18 que Cristo é “a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a primazia”. Em tudo. Cristo deve ser a nossa referência principal, e tudo o mais deve girar ao redor dEle — não o contrário.

Isso significa que nossa teologia, liturgia, cultura e tradição devem ser reinterpretadas e vividas à luz da cruz e da ressurreição. O evangelho deve ser o filtro de tudo, não apenas uma parte do todo.


V. Marta e Maria: Uma Ilustração Prática

Não sejamos como Marta, atarefada e preocupada com muitas coisas, enquanto Maria escolhia a melhor parte ao sentar-se aos pés de Jesus (Lucas 10:38-42). Marta estava no lugar certo, fazendo coisas boas, mas com o coração dividido. Maria, porém, focava no essencial. A boa parte que ela escolheu era ouvir, aprender, e estar com Cristo. Isso é centralidade.

A lição é clara: podemos estar dentro da casa, envolvidos no serviço, mas com o coração distante. A prioridade deve ser Cristo. É a partir da comunhão com Ele que o serviço encontra significado e direção.


VI. Como Voltar Cristo ao Centro

  1. Reavalie suas prioridades espirituais. Pergunte-se sinceramente: o que ocupa mais espaço nos meus pensamentos, conversas e decisões? É Cristo ou são assuntos secundários?
  2. Cultive uma espiritualidade centrada na Palavra. O Cristo da Bíblia é o Cristo real. Quando negligenciamos as Escrituras, começamos a construir um Cristo à nossa imagem, ao invés de sermos transformados à imagem dEle.
  3. Ore com honestidade. Peça ao Espírito Santo que revele se algo está tomando o lugar de Jesus no seu coração.
  4. Examine seu coração nos debates e convicções. Estamos defendendo Cristo ou apenas nossas preferências pessoais? O amor e a humildade marcam nosso testemunho?
  5. Pratique a simplicidade do evangelho. Volte à cruz, ao arrependimento, à fé, à graça. Reviva a alegria da salvação.

VII. Aplicações Finais

Que essa reflexão nos leve a avaliar nossa vida e nossa fé. O que está ocupando o centro do nosso coração? O que tem moldado nossas decisões, nossas emoções, nossas conversas e nossas prioridades?

Voltemos nossos olhos a Jesus. Somente nEle há vida, verdade e sentido. Que Ele seja, hoje e sempre, o centro. E que, ao centralizarmos nossa fé nEle, as margens se tornem novamente o que sempre deveriam ser: secundárias, periféricas e submissas à glória de Cristo.

📖 “Examinem-se para ver se vocês estão na fé; provem-se a si mesmos. Não percebem que Cristo Jesus está em vocês?” — 2 Coríntios 13:5

Que a graça nos leve de volta ao centro.

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